quarta-feira, 20 de março de 2013

Carta vencedora do desafio de julho:

1º mail

Querido Eduardo,
Pedi à minha neta Ivone que escrevesse esta carta (os meus olhos já não são o que eram, mas acredita que só tenho olhos para ti). Espero que ao receberes esta carta, te encontres de saúde. Eu , vou andando , sozinha , ansiosa por te ver.Como tenho saudades do tempo, em que te enviava mensagens, na anilha dos meus pombos: ou então uma carta fugidia, que o marçano da esquina ia diligentemente entregar -dizia-lhe sempre: vai num pé e vem noutro!.Lembras-te do miúdo? Cresceu , casou, e foi para a Austrália.Lembras-te? das minhas cartas perfumadas, fechadas muito devagar, molhadas nos meus lábios(eram beijos que te enviava, sabes?); a minha mãe não podia sequer sonhar, já que, como te disse era prometida do Carlos, com quem casei, e que se finou há 4, que digo eu?, 24 anos. Pois foi. 24 anos , parece que foi a semana passada. Ainda hoje não sei, porque é que a minha mãe- que acolhia toda a espécie de gatos e cães vadios-, não te podia nem ver ao fundo das escadas. Mas,  

2ºmail

Gerardo, meu amorPassei-me. Estava a escrever uma carta para o namorado da minha avó- o que queres, neta única-, troquei as mãos  e enviei para ti . Desculpa. Diz-me que me desculpas. Manda-me um toque (esqueci-me de carregar o telemóvel). Estás no Face? Preciso de falar contigo, agora. No chat. Tenho novidades para tiBeijosTua Ivone

3º Mail

Gerardo meu amor.Porque não apareces no chat? Por onde andas. No Tweeter? Sabes que não vou à bola com isso.BeijosTua Ivone

4º Mail

Meu Gerardo,

Logo hoje não tenho saldo. Aparece no Skype. Falamos a noite toda, toda…E contas-me se já tomaste a decisão de me salvar, das garras da solidão. Por mais mails, mensagens-curtas e compridas-, que me envies, trocava tudo isso por toques…teus.

“You nou uaraimin."

Não me ligas , vou dormir-ou não!

Sempre TuaIvone

(carta  da autoria de Alvaro Carriço, em resposta à carta de julho)



Carta vencedora do desafio de junho:


Ivone, minha sempre Ivone,
É com apreensão, ou melhor dito, horror, que leio que me pedes que insista em vencer os teus medos, mas COMO?
Eu acredito firmemente que a nossa relação, que tu chamas epistolar, é um verdadeiro sucesso.
Como tu, tremo quando vejo a caixa do correio, ainda que seja à tarde e que já a tenha aberto de manhã, depois de ter visto o carteiro entrar e sair do prédio. A minha reserva natural não me permite que alguém me observe quando abro a caixa do correio. Este gesto que passa em todas as casas é algo íntimo para mim. Não sempre chegam as tuas cartas, com as quais sonho dia e noite. É verdade que aparecem outras coisas mas todas são insignificantes. Só as tuas cartas importam.
A tua carta chegou há dois dias e desde aí levo-a na carteira e quando tenho um minuto torno a lê-la. Gosto tanto de ler as tuas cartas. Algumas delas sei-as de cor, outras só algumas passagens, mas esta última é tão bonita e tão frágil que tenho medo de que se parta se a leio demais. Diz-me por favor que me tornas a escrever para que eu leia cada carta tua over and over. Ainda não te tinha contado, mas sábado de manhã, quando não tenho que ir trabalhar, preparo um café em casa, daquele de Timor que eu gosto tanto, uma caneca muito grande que me trouxeram de Paris e que tem a torre Eiffel pintada. Levo o meu café para a varanda (se faz sol, é claro), sento-me no cadeirão que arrasto da sala e leio as tuas cartas todas da primeira à ultima, nesta ordem e sou tão feliz. Estamos tão bem.
Às vezes quando vejo casalinhos abraçados na rua tenho inveja porque não posso fazer o mesmo, mas depois penso: - «Mas eles não recebem estas cartas que eu recebo, quando se desfazem do abraço não fica nada para o sábado de manhã...»

Ai Ivone, aqui despeço-me

Sempre teu,
Gerardo

(carta  da autoria de Ana Duncan, em resposta à carta de junho)

Carta vencedora do desafio de maio:


Gerardo, meu amor

Não imaginas a alegria, o entusiasmo, diria mesmo exultação, com que recebo cada nova
missiva tua. É como um arco-íris resplandecente surgindo no cinzento habitual da minha vida.
Não calculas a ansiedade com que diariamente abro a caixa do correio, será hoje? e a
melancolia que me invade quando apenas encontro folhetos de publicidade ou as inevitáveis
facturas para pagar.
Quando, como ontem, lá encontro novo envelope com o teu nome no remetente, uma
excitação nervosa invade todo o meu corpo, as mãos tremem-me tanto que o seguro com
força, com receio de o perder. Levo a carta ao nariz e inspiro, primeiro suavemente, depois
com força, convenço-me que lhe adivinho o conteúdo pelo odor. Todas as tuas cartas têm um
cheiro diferente: a paixão, a carinho, a ironia, a ciúme, e eu consigo distingui-los a todos.
Não a abro logo, adio o momento. Acaricio-a, cheiro-a novamente, verifico o selo, acabo por
a pousar sobre a mesinha pé de galo junto ao sofá. Em seguida vou tratar dos meus afazeres
enquanto sonho e tento adivinhar as tuas palavras ainda incólumes, protegidas que estão
dentro do envelope. Depois de jantar abro uma garrafa de vinho branco e ponho o cd do Burt
Bacharach a tocar. Aguardo pela música Close to You para iniciar finalmente a leitura. E ao
fazê-lo sinto-me assim, tão perto de ti, como se estivesses aqui a meu lado, meu amor de
papel.
Após ler a tua última missiva impõe-se uma confissão, desnecessária talvez porque decerto a
adivinhas. Se não apanho o barco para ir ter contigo é porque um medo profundo e enraizado
mo impede. Receio o sempre sonhado momento do encontro. Temo que a possível decepção
com a realidade destrua esta relação epistolar única que temos vindo a construir, tão rica e
preciosa, tão preenchedora da minha eterna solidão. Sobreviverá o nosso amor a essa dura
prova? Mas não desistas de mim. No fundo quero ver derrotadas as barreiras que a mim
própria imponho, falta-me apenas coragem. Insiste e salva-me, meu príncipe encantado, sei
que acabarei por ceder.

Sempre tua,
Ivone


(carta  da autoria de Adelaide Trigo, em resposta à carta de maio)


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Carta vencedora do desafio de abril:

Sempre Minha Ivone



A tua missiva, deixou-me algo perplexo, apreensivo com o encurtamento do nosso amor, que sempre acreditei  piamente se transformasse numa série de sucesso, e crescesse dia após dia. Abruptamente está perto de ser apenas uma curta metragem, um míssil de curto alcance, uma bica curta com sabor a queimado.

Sei que foste tu que me resgataste do seminário,  mas não me podes cobrar juros merkelianos de curto prazo . Sabes que passei o ultimo mês em jejum e abstinência, o que tu classificas de bizarrices. Quanto a ser engenheiro da Nasa foi apenas uma brincadeira inocente, talvez para me sentir mais perto do céu; neste momento trabalho numa loja de artigos religiosos – o que me ajuda a evitar a ressaca.

Nunca te vi como pessoa de vistas curtas (apesar do tipo de óculos), mas eu, que não tenho memória curta lembro-me das juras de amor de longo alcance que trocámos.

 Dizes que não queres chegar ao estado que os Pink Floyd em Wish you were here, tão bem definem:



“we are two lost souls swimming in a fish bowl

year after year,

running over the same old ground

What have we found?

The same old fears”



Quero que curtas a vida, e não sou eu que te vou impôr  rédea curta. O facto de representares o papel de uma menina bem comportada (exteriormente), alérgica a saias curtas, e de gostos rétro, é na realidade uma máscara irreal. Sou feliz porque conheço a verdadeira Ivone, que me iniciou nas noites de amor que não me atrevo a descrever, e que não voltarei a desfrutar. Se alguém vier a seguir será apenas um sucedâneo, uma marca branca, sem comparação com a original.

Se o meu curto amor não te consegue prender, rechear, preencher, leva  a chave e podes livremente voar, se é realmente o que precisas para seres  feliz.

Todavia lembro-me de um ditado sueco que vou escrever em inglês, “ you can get your apettite elsewhere, as long as you eat at home”.

Quando voltares talvez haja água e alpista. Talvez nessa altura fiques a conhecer a minha parte imprevisível e bizarra, se até lá não curtocircuitar.



Recorrentemente teu? Gerardo

(carta  da autoria de Carlos Pinharanda, em resposta à carta de abril)


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Carta vencedora do desafio de março:

Gerardo,
Meu verso solto,
Só agora me dei conta que estava em dívida epistolar contigo. Atrasei-me no relógio, e há quem considere esse acto uma omissão imperdoável; um crime de lesa-afectividade é, com certeza, mas eu acredito que nunca é tarde devolver um sorriso do tamanho da linha imaginária do Equador à tua prosa, que é de provocação e luar.
Gostaria de segredar-te que tenho estado muito concentrada nos deveres de um ofício novo – catalogação de filmes adormecidos na Cinemateca. Se soubesses as fitas que tenho devolvido ao mundo, películas em que o Amor e os “Happy Endings” completam vidas desencontradas, não imaginas como essa tarefa simples me enche a alma com prazeres quase perfeitos (tenho sacudido o pormenor da alergia ao pó)! Claro que a perfeição apenas existe nos filmes de Tim Burton e na magia de Lewis Carroll.
As tuas palavras são perfume de jasmim, e a Primavera está à espreita de pétalas e dois sóis. Da próxima vez que cruzarmos as mãos, os nossos olhares farão uma descoberta bem mais admirável do que as Pirâmides de Gizé. Com a pedra, o fogo e os mitos dos deuses se fortalece a nossa cumplicidade imortal.
Chove hoje, e será que tens por aí um guarda-chuva de varas de papiro e folhas de nenúfares para abrigares o cadinho dos meus desajeitados sentimentos? Não sei conjugar verbos, porque prefiro adjectivos. E o verbo maior que sei situar no tempo faço-o contigo de perto, por ora, em silêncio.
Beijos,
O teu poema,
Ivone.
PS: Optei pelo acordo-ortográfico-que-não-deglute-letras-nem-gera-confusões. Lembras-te daqueles dias nos bancos da nossa escola primária em que troçávamos do professor Orlando? Um fato não é um facto, e o nosso professor vestia como um noivo apaixonado!

(carta  da autoria de Marco Faria, em resposta à carta de março)


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Meu Gerardo


Talvez esta carta seja um pouco aquaresmada, sofrida, espinhosa, para aquele a quem prometi amor eterno.
A tua ultima carta deixou-me algo turvada, enquanto o nosso amor está um pouco requentado, amarrotado, como as minhas saias plissadas ficavam, quando  passávamos os dias simbióticamente tatuados, e tu brincavas com as palavras dizendo que não sabias se era paixão ou miopia.
Mas como sabes, todas as paixões são ridiculamente míopes, porque se não fossem apaixonadamente míopes não seriam ridículas.
Não me convides para comer Callipos, esse gelado curtifrio, quando eu preferia Magnum, olá se preferia, nem me convides para ver aviões, ou ficas a ver navios no porto de Leixões, enquanto eu zarpo do teu cais, e tu ficas a chupar caroços de azeitonas.
Recuso-me a transformar  a minha vida num calvário, e ser crucificada no monte da tua indiferença. Luto para que continues a ser o Meu Gerardo; o meu plissado tem saudades de ser amarrotado, trespassado, passado a ferro, e exalar o perfume do teu after shave de sempre.
Lembro-me do tempo em que te libertei - como tu dizias - dos dias madrugadores e genuflexentos do seminário.  Foram dias, semanas, meses, em que mitigaste a tua fome imensa no meu corpo, sôfregamente, após anos de travessia do deserto. Acredito que ainda precises de respirar apressadamente, com medo de seres novamente enclausurado. Não tenhas medo eu não deixo.
Eu espero por ti. As minhas turmas de pré-primária cansam-me alegremente, e muitas vezes consigo adormecer, sem saber que existo, sempre à espera de acordar e encontrar-te na minha almofada. Sonho que desces o Douro e eu vou esperar-te ao Tejo, e choro desencontradamente.
Preciso de te ver, de te ter, de te sentir, do teu perfume, de te passar as mãos pelo cabelo, de te morder, de te afogar com  beijos. Vamos reacender a nossa paixão.


Mais do que epístolas preciso de ti em carne e osso.


Tua Ivone

(carta  da autoria de Carlos Musga, em resposta à carta de março)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

                           

Querida Ivone
Hoje e todos os dias penso em ti, e de como chegámos aqui, e como o amor foi crescendo.
O primeiro dia em que te vi, com o teu cabelo à garçone, fiquei feito mirone, insone, verdade, Ivone.
Consegui o teu telefone, liguei, era a tua mãe Simone, que passou à tua irmã Alcione, até que gaguejei, não não, é para a Ivone.
Convidei-te para sair, aceitaste, foi como um ciclone, Ivone.
Fomos ao cinema ver um filme com o Stallone, e jantámos no  italiano, minestrone e pizza calzone, pois foi Ivone.
Convidaste-me para lanchar na tua casa, conheci o teu pai Hermione, a tua mãe Simone e a tua irmã Alcione, comi um scone, e tu comeste um iogurte, Danone, Ivone.
Também gostei dos cortinados de cretone, Ivone
Todos cheios de boas maneiras e simpáticos, senti-me quase um camone, ainda bem que tinha lido o livro da Bobone, Ivone.
Até ao dia em que corri as teclas do teu xilofone, e tu tocaste no meu trombone, e verdade, não precisas de silicone, Ivone.
A partir desse dia nem é preciso carregar no on , Ivone
Para o Dia dos Namorados estava à espera de um i-phone. Mas, já me disseste que para falar comigo, precisas de um megafone, e que me vais oferecer uma consulta na Sonotone, Ivone.
Como gosto tanto de ti vou mandar fazer um clone, e aí já podemos estar on and on and on and on…..
Beijos

Do sempre teu, Gerardone

(carta da autoria de Carlos Musga, em resposta à carta de fevereiro)